
Foi muito rápido, de uma hora para outra o caiaque capotou. Estou ciente que tenho que manter a calma. Me preparo pra ejetar, visto que ainda não sei a manobra rolagem. Com o caiaque de casco para cima procuro o cordão para desprender a saia. Tento manter o corpo rente a embarcação para não bater a cabeça nas pedras. Acho o cordão e puxo-o com força ao mesmo tempo que desprendo as pernas do apertado cock pit. Aliviado sinto o corpo sair da pequena embarcação. Agora eu e ela estamos a deriva, em meio a uma corredeira.
Na minha mente um único comando: manter a calma. Manobro o corpo para a posição de corredeira, conhecimento herdado do bóia cross. Com os pés pra frente, joelhos flexionados e braços abertos vou me livrando como posso das pedras. O remo está firme em minhas mãos; pelo menos aprendi uma lição: ejetar sem soltar o remo.
O caiaque entra numa forte corredeira a direita enquanto eu sigo a do meio, um pouco mais fraca. Vou descendo, me mantendo calmo, esperando uma prainha onde consiga sair e resgatar a pequena embarcação. Logo a frente, na margem direita avisto uma. Agora é a hora, Nado até o caiaque para puxá-lo fora da ¨linha de edi¨ mas o mesmo está cheio d água e pesado. Arrasto-o como posso em direção a margem. Estamos quase lá, mais ainda não ¨dá pé¨. Dar braçadas, com uma mão segurando o caiaque o outra o remo é uma tarefa impossível pra alguém inexperiente como eu, e quase na beirinha do rio vejo a sonhada ¨prainha¨ ficando alguns metros para trás.
As pedras reaparecem na margem e solto o caiaque. Tento como posso me afastar das pedras e novamente em ¨posição de corredeira¨ continuo descendo rio abaixo. Pedras grandes, fluxo e volume maior de água. A frase manter a calma continua estampada em minha mente. Em uma pequena queda d água entro num refluxo. Afundo um pouco mas logo estou na superfície.
-Bendito colete, penso enquanto me lembro aliviado que o mesmo foi bem travado no início da corredeira.
Ao emergir tento puxar o máximo de ar para os pulmões mas não consigo, devido as ondas que vêem por todos os lados. Minha cabeça afunda uma segunda vez. Espero novamente emergir e ao tentar respirar outras ondas me impedem. Já sem ar nos pulmões saio da posição de corredeira e tento como posso respirar, nadando ao estilo ¨cachorrinho¨. Finalmente perdi a calma e a impressão que tenho é que o colete não me flutua mais. Em meio ao desespero por falta de oxigênio consigo dar uma pequena insuflada nos pulmões. Agora desço a deriva, fora da ¨posição de corredeira¨ e em minha frente uma enorme e imponente pedra divide o fluxo de água em duas pequenas cascatas. Minha vontade é abraçar aquela pedrona e sair da água o mais rápido possível.
Ela se aproxima e eu me preparo pra agarrá-la com unhas e dentes. Numa fração de segundos passa em minha mente que agarrar uma pedra em meio a uma corredeira seria uma enorme besteira, além do risco de bater a cabeça e ter um mal súbido, o popular desmaio, em uma má hora. Já estou pra ¨colar¨ na pedrona, como uma lagartixa, mas ao ver o volume de água e a lisa parede da pedra percebo que vou ¨abraçar a centopéia¨. Jogo os pés para frente pra voltar a ¨posição de corredeira¨e lá estão eles batendo forte na pedrona, fazendo com que meu corpo gire e continue descendo, agora de costas.
-Segura no caiaque, ouço o Daniel gritar. Me contorço pra virar de frente e dou umas braçadas como posso em direção ao caiaque.
- Se eu capotar você solta o caiaque! - gritava enquanto remava forte pra estabilizar o caiaque.
- Se eu capotar você solta o caiaque, repete ele.
- Beleza , respondo.
Já estou mais calmo, apesar de continuarmos corredeira abaixo. Com alguma dificuldade conseguimos chegar à margem: eu, o caiaque e o remo.
Manter a calma é o segredo. Acho que não foi mais que dez segundos o tempo que entrei em pânico. Dez longos segundos...
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